Estou iniciando este BLOG, instrumento muito versátil, visando dar continuidade a uma discussão da qual participei com grande prazer na manhã de ontem, no auditório Mario Rigatto, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A reunião tinha como objetivo o desenvolvimento do currículo médico, na busca de formulação e busca de estratégias que possam melhor corresponder ao que idealizamos para a formação médica e para atender as necessidades da população.
A reunião foi presidida pelo Waldomiro Manfroi (vou usar somente os nomes das pessoas sem os respectivos títulos de tratamento), diretor da Faculdade, e pela Elaine que está coordenando este projeto de reformulação curricular.
Vários outros professores estavam presentes(desculpem-me por estarem faltando os nomes de alguns, o que não deve significar que a sua participação não esteja sendo valorizada. Eles estão convidados a se manifestar, deixando assim registrada sua passagem, além das suas idéias.):JJ Bianchini (que me convidou para a reunião), Eliane, Sérgio Goldani, Sérgio Bassanesi, Falk, Pustai, Aida Santin, bem como vários alunos (com um importantíssimo papel neste processo).
Este Blog que estou inaugurando se destina justamente a receber amplamente outras opiniões, correções e promover uma permanente e ubícua discussão. Quem quizer pode postar comentários ou opiniões em acréscimo a um texto ou acrescentar outros que achar relevante para o grupo discutir. Assim sendo não se fica restrito ao momento de reuniões aprazadas e, quando estas ocorrerem, poderão ser mais produtivas na medida em que todo o mundo terá acesso ao que cada um estiver pensando e se expressar.
Iniciei lembrando alguns conceitos teóricos que são sempre importantes em qualquer processo e contei cinco historinhas para sintetizar mensages que julgo relevantes.
Lembrei: O idealizado, o formal e o real. Eficiência,eficácia e efetividade.
A imaginação é muito importante na vida humana (segundo Einstein, mais importante do que a inteligência), está na base da idealização, bastante próxima da formalização, mas muito distante da aplicação prática na vida real, que depende da participação do conjunto das pessas comprometidas e de estratégias adequadas para lá se chegar.
Historinhas:
1)Sucesso de Cuba na organização do sistema de saúde e na formação médica, atenção primária e também desenvolvimento de alta tecnologia. Segundo amigo que era médico do Fidel, foi possível porque saúde foi colocada como objetivo político e de cidadania e porque com a revolução praticamente todos os médicos foram embora para Miami e foi possível começar toda a construção da educação médica desde o ponto zero.
Não podemos pensar numa reforma curricular sem comprometer todos os professores envolvidos.
2)Reforma do currículo médico na Suiça (com 5 faculdades de medicina) Promovida pelo Ministério da Saúde que julgou inadequada para atender as necessidades da população, a formação médica tradicional, apezar de toda a riqueza e sofisticação teconológica disponíveis. Este processo foi coordenado por um amigo meu Ulrich Gureninguer, iniciando em 1997 quando ele esteve aqui em Porto Alegre, tendo voltado no ano seguinte do centenário de nossa Faculdade, processo este que ainda está em andamento sete anos depois. Atualmente está engajada nesta reforma uma conterrânea nossa (que com muito orgulho foi minha aluna), professora da faculdade de Genebra, Margareth Weidenbach Gerbase.
O processo de reforma é lento de laborioso e não bastam dinheiro, ciência e tecnologia.
3)Artigo do Michel Marmot contando de uma pesquisa sobre educação e modificação de comportamento para controle de fatores de risco entre índios Pima, nos EEUU (com alta prevalência de diabete e obesidade). Comparados dois grupos: um com aplicação de métodos convencionais de educação para saúde e outro no qual se procurou apenas reforçar a busca da identidade destas populações marginalizadas e com perda de sua identidade cultural. O resultado no último grupo foi muito mais expressivo.
Nós médicos estamos perdendo nossa identidade e no processo de formação não sabemos muito bem que tipo de médico queremos formar. Dizemos que necessitamos de médicos com visão humanística e uma base compreensiva com poder de resolução para problemas básicos, que possam depois desenvolver áreas de concentração mais específicas, ou médicos com apenas alta formação especializada, tecnológica e científica.
4)As histórias contadas no livro "Emergência" que valoriza a comunicação e formação de redes e o desenvolvimento "down up", em vez das organizaçãoes verticais tecnocráticas, de cima para baixo, sem a participação das bases e do conjunto.
A comunicação entre os componentes da base populacional é fundamental e às vezes somente situações de penúria e crise são capazes de promover, quase por desespero, a comunicação necessária.
5)Minha experiência na década de 90 frente a um conselho da Federação Mundial de Cardiologia. Havíamos conseguido Um milhão de Euros, inclusive estive em Bruxelas defendendo nosso projeto para ser executado em coordenação com três entidades Organização Mundial da Saúde, Federação Mundial de Cardiologia e UNESCO. Fomos incompetentes para colocar um projeto bem idalizado, com calhamaços de papel em sua formalização, e transferi-lo para a aplicação prática, vencendo toda a burocracia de três instituições, as brigas políticas do governo de Bangladesh e os interesses pessoais de cada um comprometido com o processo.
Dinheiro e boas idéias também não são suficientes, são necessárias estratégias adequadas e um trabalho complexo para superar barreiras burocráticas, políticas e individuais.
No decorrer da reunião e depois várias idéias adicionais importantes foram acrescentadas, sobre participação, sobre necessidade de a revolução interna necessitar de uma outra mais complexa, externa, que facilite o clima de mudanças, etc...
Este assunto é para nunca acabar. Aliás, quando se pensar em que está chegando nos "finalmente", deve estar na hora de novas adaptações, reformulações e correções...
Assim é que proponho o uso deste Blog para ajudar o processo e todos os de boa vontade estão convidados a colaborar.
Aloyzio Achutti